Medo de Tomar Remédio Psiquiátrico: Verdades e Mitos
Introdução
Mesmo diante de sintomas intensos de sofrimento emocional, muitas pessoas hesitam em iniciar o uso de medicações prescritas por psiquiatras. O medo de efeitos colaterais, da dependência ou da mudança da “personalidade” faz com que alguns pacientes posterguem o início do tratamento — o que pode agravar quadros que seriam facilmente manejáveis com intervenção precoce.
Neste artigo, vamos abordar os principais medos relacionados aos medicamentos psiquiátricos, esclarecer o que é mito e o que é verdade, e mostrar como o tratamento medicamentoso, quando bem indicado e monitorado, pode ser um grande aliado no caminho da recuperação.
De onde vem o medo de remédio psiquiátrico?
O estigma em torno das doenças mentais e de seus tratamentos tem raízes históricas. Durante muito tempo, quadros psiquiátricos foram associados à loucura ou fraqueza, e os tratamentos eram pouco humanizados. Hoje, no entanto, os avanços da medicina trouxeram medicamentos modernos, eficazes e mais bem tolerados — mas os medos persistem.
Alguns fatores que alimentam essa resistência incluem:
- Falta de informação confiável
- Experiências ruins de pessoas próximas
- Uso inadequado de medicamentos (sem acompanhamento)
- Notificações exageradas de efeitos adversos em redes sociais
- Ideia de que “tomar remédio é sinal de fraqueza”
O primeiro passo para superar esse medo é entender o que, de fato, é verdade — e o que é mito.
Principais mitos sobre medicamentos psiquiátricos
1. “Remédio psiquiátrico vicia”
Nem todo medicamento usado na psiquiatria causa dependência. A maioria dos antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos não gera dependência química. O que pode acontecer é o uso prolongado por necessidade clínica, assim como ocorre em outras áreas da medicina, como hipertensão ou diabetes. Benzodiazepínicos (como clonazepam), sim, podem causar dependência se usados por muito tempo — por isso são sempre indicados com cautela e monitoramento.
2. “Remédio muda minha personalidade”
A medicação não muda quem a pessoa é — ela reduz os sintomas que estão distorcendo o funcionamento emocional e cognitivo. A melhora permite que a pessoa se reconecte com sua essência, livre da interferência de ansiedade intensa, depressão profunda ou impulsos fora de controle.
3. “Vou ficar sonolento ou ‘dopado’ o tempo todo”
Esse efeito pode ocorrer em fases iniciais ou com medicamentos específicos, mas não é o esperado em tratamentos bem ajustados. Um dos objetivos do acompanhamento psiquiátrico é encontrar a dose e o tipo de remédio que tragam alívio sem sedação excessiva.
4. “Se eu começar, nunca mais poderei parar”
Em muitos casos, o uso é temporário, especialmente em quadros leves ou moderados. Já em situações crônicas ou recorrentes, o uso prolongado pode ser indicado — assim como acontece com outras condições de saúde. A decisão de parar é sempre tomada junto com o psiquiatra, de forma gradual e segura.
5. “Quem precisa de remédio está fraco ou não tentou o suficiente”
Esse é um mito extremamente prejudicial. O sofrimento emocional não se resolve apenas com força de vontade. Em muitos casos, há alterações neuroquímicas envolvidas, e o tratamento medicamentoso permite que a pessoa tenha recursos internos para lidar com a terapia, os desafios da vida e a reconstrução do equilíbrio.
Quando os medicamentos psiquiátricos são indicados?
As medicações podem ser úteis em diferentes cenários:
- Depressão moderada a grave
- Transtornos de ansiedade com prejuízo funcional
- Transtorno bipolar
- Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos
- Transtornos obsessivo-compulsivos
- Transtornos de personalidade com instabilidade grave
- Insônia resistente ou associada a sofrimento psíquico intenso
O psiquiatra avalia o quadro clínico, os antecedentes, a tolerância individual e as preferências do paciente antes de propor uma prescrição. O tratamento é sempre individualizado.
Medicação e psicoterapia: uma combinação poderosa
É comum o receio de que o remédio substitua a necessidade de falar sobre os sentimentos. Na prática, o ideal é o tratamento combinado — onde a medicação estabiliza os sintomas e a psicoterapia aprofunda o autoconhecimento, melhora os relacionamentos e fortalece a autoestima. Um caminho não anula o outro. Eles se complementam.
FAQs
Todo mundo que vai ao psiquiatra precisa tomar remédio?
Não. Em muitos casos, o acompanhamento inicial é apenas avaliativo ou terapêutico. A medicação é indicada quando há prejuízo funcional, sofrimento intenso ou risco associado.
Preciso tomar medicação para o resto da vida?
Depende do quadro. Alguns tratamentos são temporários, outros exigem continuidade. Tudo é decidido junto com o psiquiatra, com base na evolução clínica.
Remédios psiquiátricos causam efeitos colaterais graves?
Como qualquer medicamento, podem ter efeitos adversos — mas a maioria é leve e transitória. O acompanhamento adequado permite ajustar ou trocar a medicação, se necessário.
Posso parar por conta própria quando me sentir melhor?
Não. A interrupção abrupta pode causar piora do quadro ou sintomas de abstinência. A retirada deve ser feita com orientação médica, de forma progressiva.
Terapia pode substituir a medicação?
Em alguns quadros leves, sim. Em casos moderados a graves, a combinação costuma oferecer melhores resultados. O ideal é avaliar cada caso individualmente.
Conclusão
O medo de tomar remédio psiquiátrico é compreensível, mas muitas vezes está baseado em informações distorcidas ou desatualizadas. Quando bem indicado e acompanhado, o tratamento medicamentoso pode transformar a vida de quem sofre, aliviando sintomas que antes pareciam insuportáveis. Cuidar da saúde mental com responsabilidade inclui abrir espaço para todas as ferramentas disponíveis — inclusive os medicamentos. A decisão deve ser tomada com orientação profissional, escuta empática e respeito ao tempo de cada paciente









